Mano a Mano apresentam dia 11 de Novembro no Centro Cultural de Belém o seu segundo álbum, simplesmente intitulado “Vol.2”.
“Eram pior que inimigos, eram irmãos”, escreveu o italiano Pitigrilli no seu compêndio de aforismos A Decadência do Paradoxo. Bruno e André Santos são dois guitarristas originários da Madeira. Irmãos, com uma significativa diferença de idades, conseguiram afirmar-se como instrumentistas notáveis na cena do jazz nacional, cada um com o seu estilo pessoal. Apesar de toda a proximidade entre irmãos existirá sempre alguma diferença, confronto e rivalidade. Os manos Santos decidiram canalizar essa energia para a música.
O guitarrista Bruno Santos (nascido em 1976) vem consolidando um percurso sólido na cena do jazz nacional, como guitarrista, compositor e professor. Director pedagógico da Escola de Jazz Luiz Villas Boas, do Hot Clube de Portugal, Santos dirige o Septeto de Jazz do Hot Clube de Portugal e nos últimos anos editou vários discos em nome próprio: Wrong Way (2005), TrioAngular (2007), Ensemble (2013) e Caixa de Música (2013). André Santos (1986) é o irmão mais novo e está na fase inicial da sua carreira, também na área do jazz, também como guitarrista. Concluiu o mestrado no Conservatório de Amesterdão e, em 2013, editou um original disco de estreia, chamado Ponto de Partida, acompanhado por valores seguros da mais jovem geração do jazz nacional:Ricardo Toscano, João Hasselberg e João Pereira. Já em 2016, editou um novo disco, Vitamina D, desta vez gravado em trio com parceiros internacionais: Tristan Renfrow (bateria) e Matt Adomeit (contrabaixo). Além de uma evidente maturidade da linguagem do jazz, a sua música assume também um flirt com o rock. Cada um dos irmãos já consolidou a sua forma particular de tocar e tem bem definido o seu estilo próprio. Apesar disso, juntaram-se para uma parceria musical que, além de dueto, é também um duelo. Além de entrelaçarem as guitarras à volta de standards intemporais e clássicos açucarados da música brasileira, os manos Santos aproveitam os espaços abertos à improvisação para se desafiarem, um diálogo instrumental que assume a forma de uma saudável provocação.
O duo de irmãos nasceu em casa. Conta o irmão mais novo, André Santos:“Começámos a tocar juntos lá em casa e no início eu fazia alguns acordes enquanto ele treinava umas improvisações… Depois começámos a tocar standards e a coisa foi evoluindo, pois temos uma boa química e uma visão musical idêntica.” O irmão mais novo confessa que começou a interessar-se pela prática musical por influência directa de Bruno: “Comecei a tocar porque o meu irmão andava lá por casa a tocar, tinha a guitarra à mão de semear e às tantas comecei a experimentar. Ainda não percebi porque virei a guitarra para o lado esquerdo, porque eu sou destro… Tenho uma teoria, que não sei se é bem verdade: eu via o meu irmão a tocar e acho que foi uma espécie de efeito de espelho. Por isso, sim, o meu irmão foi determinante.”
Para André, tocar com o irmão mais velho é fácil: “Damo-nos muito bem e isso faz com que a música que tocamos seja fluida e feita de forma genuína. Apesar de parecermos diferentes, temos muitas referências em comum e acho que nos complementamos bem.” O baterista americano Tristan Renfrow, que toca no segundo disco de André,comentou sobre o duo Mano a Mano: “Vocês tocam a mesma coisa mas com palavras diferentes”. André não contradiz a afirmação: “Tocamos à vontade um com o outro, percebemos as opções que cada um toma no momento e temos muita liberdade.Damo-nos bem tanto pessoalmente como musicalmente e acho que temos mesmo uma química especial.”
O duo editou o seu disco de estreia, homónimo, no ano de 2014, que contou com o apoio de uma secção rítmica. É agora editado o segundo volume de Mano a Mano, desta vez mais despido, servindo-se apenas das guitarras dos irmãos. O irmão mais novo apresenta o álbum: “A principal diferença deste segundo disco é ser somente em duo. Partindo dessa premissa, estivemos a pensar em como poderíamos manter o repertório cativante durante um disco ou concerto inteiros. Começámos por aliar ao nosso som acústico, o som eléctrico, acrescentando efeitos à guitarra em alguns temas.” Continua André: “Para este disco trabalhámos durante mais tempo juntos a questão dos arranjos e dos temas originais, como uma banda de garagem experimenta até chegar a uma versão quase definitiva.”
A dupla trabalha um repertório que combina temas originais, velhos standards de jazz e clássicos da MPB. Para André, a escolha dos temas é fácil: “Vamos sugerindo temas de que gostamos e que funcionam. A maioria dos temas que não são nossos têm uma história qualquer, um deles estava presente no primeiro disco que o meu irmão me ofereceu.” O que poderemos esperar então deste concerto no Centro Cultural de Belém? André Santos promete “uma forte empatia pessoal e musical, num cenário a fazer lembrar a nossa sala de estar, onde tudo começou, como se recebêssemos o público em nossa casa. Quem lá for, sairá de lá mais alegre.” A promessa está feita.
Nuno Catarino