Carcass e Venom confirmados no VOA - Heavy Rock Festival.
Os icónicos Carcass e Venom são as derradeiras adições ao cartaz da edição de 2017 do VOA – Heavy Rock Festival, fechando assim o alinhamento de um evento que, como paragem obrigatória na época estival para qualquer melómano, se realiza pelo segundo ano consecutivo no Parque Urbano Quinta de Marialva.
Nos dias 4, 5 e 6 de Agosto, o aprazível anfiteatro de Corroios vai receber 2 dos mais lendários nomes de que há memória nas últimas décadas no cenário da música extrema. 2 projetos conterrâneos, ambos são britânicos, surgidos em duas décadas distintas, uns na de 80 e outros na de 90, mas igualmente fulcrais e referenciais na proliferação de quatro das tendências – o death/grind/gore e death melódico, no caso dos primeiros; o thrash e black metal no caso dos segundos – que mais bandas produziram no movimento underground pré-Séc. XXI e que continuam a ter um impacto inegável em muito do que se faz hoje em dia nesses espectros.
Exemplos claros de perseverança, apesar dos hiatos e de várias reanimações, tanto os Carcass como os Venom mostram uma vitalidade de fazer corar de inveja muitas bandas mais jovens e, sobretudo, continuam a exorcizar uma dedicação à causa que não é, de todo, comum na sociedade frenética em que vivemos.
Criados em 1986, num momento em que o talentoso guitarrista Bill Steer ainda fazia parte de uma das formações mais lendárias dos Napalm Death, com quem gravou “Scum” e “From Enslavement To Obliteration”, ao longo de duas décadas os Carcass transformaram-se eles próprios também em lendas, primeiro estabelecendo as regras para o híbrido de death/grind, pintado em tons de sangue e tripas, com dois títulos incontornáveis do underground dos 90s, “Reek Of Putrefaction” e “Symphonies Of Sickness”; e depois, com a sequência formada por “Necroticism – Descanting The Insalubrious” e “Heartwork”, o death metal melódico, deixando uma marca indelével não só na N.W.O.S.D.M. mas também no fenómeno metalcore, mais recente. Entretanto, ainda antes da edição de “Swansong”, decidiram votar-se a um longo hiato, voltando apenas ao ativo em 2007.
“Surgical Steel”, editado seis anos depois, foi o primeiro álbum que o quarteto formado por Steer e Jeff Walker – e que fica agora completo com Daniel Wilding na bateria e Ben Ash na segunda guitarra – gravou desde meio da década de 90, e serviu a derradeira prova de que, afinal, mesmo depois de tantos anos a julgar-se que a banda estava morta e enterrada, a dupla veterana ainda tinha um grande álbum de death metal dentro de si. Canções como “Thrasher's Abbatoir”, “Unfit For Human Consumption” ou “Captive Bolt Pistol” afirmaram-se rapidamente como provas de que a resiliência compensa e, numa mistura equilibrada dos melhores momentos dos dois discos mais consensuais da fase “adulta”, encapsulam tudo aquilo que aprendemos a esperar dos britânicos ao longo dos tempos. Focados na tarefa de provar que estão bem vivos criativamente e ainda muito longe da decomposição, os Carcass versão Séc. XXI mostram-se tão letais e cirúrgicos como sempre.
“Lay down your soul to the gods rock'n'roll... Black metal!!!”
Quem, por esta altura, não conhece o famoso tema e disco de 1982? Por esta altura, os Venom já dispensam quaisquer apresentações e, apesar de todas as transformações estéticas e sonoras que o estilo foi sofrendo com o passar dos anos, foram eles próprios que estabeleceram as regras básicas para o estilo ao lançarem o seu segundo álbum. Já um ano antes, com a estreia “Welcome to Hell”, o trio oriundo de Newcastle tinha pegado na fórmula da, em ebulição na altura, N.W.O.B.H.M. e, injetando-lhe aquela garra incontida do punk, criou um som ainda mais pesado e extremo que, uns tempos depois, acabaria por dar origem ao thrash. Famosos pelos espetáculos memoráveis, em que os lasers competiam por atenção com a descarga decibélica protagonizada pelo grupo, o trio Cronos, Mantas e Abaddon transformou-se num enorme fenómeno de popularidade, acabando por influenciar o surgimento de nomes tão famosos como Metallica ou Slayer. A natureza volátil da formação clássica acabaria por dar o tiro de partida para uma carreira de enorme sucesso, mas cheia de paragens e arranques, assente em álbuns como “At War With Satan”, “Possessed” ou “Calm Before The Storm”.
De 1979 a 1993, quando se separaram pela primeira vez, os Venom transformaram-se numa das instituições mais emblemáticas da música extrema e, já depois de se ter estado afastado durante um período, o inimitável Cronos decidiu tomar de novo as rédeas do projeto em 1995. Após uma demasiado breve reunião com Mantas e Abaddon, durante as últimas duas décadas o baixista e vocalista tem mantido presença assídua, e muito aplaudida, nos palcos e nos escaparates. Gravado na sequência de “Metal Black”, “Hell” e “Fallen Angels”, o último registo de originais do grupo – cuja formação fica, há já quase dez anos, completa com Rage na guitarra e Danté na bateria – chama-se “From The Very Depths” e foi editado em 2015